A realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA) são duas tecnologias emergentes que estão mudando a forma como atuamos no mundo e ganhando força no universo da saúde.
Essas tecnologias estão sendo cada vez mais utilizadas nas terapias integrativas e complementares, com resultados animadores para o tratamento de variados problemas de saúde, incluindo:  Fobias e Traumas, Reabilitação Motora, Meditação e Relaxamento, Deficiência Cognitiva e Autocuidado.

Mas você já ouviu falar de realidade virtual e realidade aumentada?
Essas tecnologias, que antes eram vistas como coisa de ficção científica, estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia.

A RV nos permite entrar em mundos virtuais completamente imersivos, enquanto a RA permite inserir elementos virtuais em nosso mundo real.

A RV usa óculos ou capacetes especiais para criar uma experiência imersiva que pode envolver quase todos os nossos sentidos. O usuário pode sentir como se estivesse presente em um mundo virtual, podendo interagir com ele de forma realista.
Ela pode ser usada para criar ambientes virtuais que simulam espaços naturais ou urbanos, ou que proporcionam experiências sensoriais únicas, como uma caminhada na floresta ou um mergulho no fundo do mar.

A RA usa dispositivos como smartphones ou tablets para inserir elementos virtuais no mundo real. Os elementos virtuais podem ser imagens, vídeos, textos ou até mesmo objetos 3D.
Ela pode ser usada para fornecer informações adicionais sobre o mundo ao nosso redor, como nomes de plantas ou animais, ou para criar experiências interativas, como jogos ou tours virtuais.

RV e RA: a Tecnologia como Aliada das Práticas Integrativas
Foto: Arquivo Canva

Da simulação à realidade: como a RV e RA estão transformando as terapias integrativas

As tecnologias RV e RA podem ser usadas para criar experiências imersivas que podem ser mais eficazes do que as terapias tradicionais. Isso ocorre porque essas tecnologias permitem que os pacientes experimentem situações e ambientes que seriam impossíveis ou perigosos de reproduzir na vida real.

Por exemplo, a RV pode ser usada para ajudar pessoas com fobias a enfrentar seus medos em um ambiente seguro e controlado. Em um estudo, pacientes com fobia de altura foram expostos a uma simulação de realidade virtual de um arranha-céu. Após a terapia, os pacientes relataram uma diminuição significativa nos sintomas de sua fobia.

A RA também pode ser usada para criar experiências imersivas que podem ser usadas para apoiar as terapias integrativas. Por exemplo, a RA pode ser usada para fornecer feedback em tempo real aos pacientes que estão praticando exercícios físicos ou para criar ambientes relaxantes para a meditação.

A cura através da imersão: como a RV e RA auxiliam no enfrentamento de medos e traumas

Uma das áreas em que as tecnologias RV e RA têm mostrado mais potencial é no tratamento de medos e traumas. A imersão proporcionada por essas tecnologias pode ajudar as pessoas a enfrentar seus medos de forma mais segura e eficaz.

Isso ocorre porque essas tecnologias permitem que as pessoas se confrontem com seus medos de uma forma gradual e controlada.

Por exemplo, a RV pode ser usada para tratar o medo de altura. O paciente pode ser colocado em um ambiente virtual de um penhasco ou montanha, onde poderá experimentar a sensação de altura sem correr o risco de se machucar. Isso pode ajudar o paciente a superar seu medo e a desenvolver novas habilidades de enfrentamento.

A RV também pode ser usada para ajudar pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) a reviver seus traumas de forma segura e controlada. Em um estudo, pacientes com TEPT foram expostos a uma simulação de realidade virtual de um acidente de carro. Após a terapia, os pacientes relataram uma diminuição significativa nos sintomas de seu estresse pós-traumático.

A RA também pode ser usada para tratar medos e traumas. Por exemplo, a RA pode criar um ambiente que represente o local onde o paciente sofreu um trauma. Isso pode ajudar o paciente a revisitar o trauma de forma segura e controlada, sendo um passo importante para o processo de cura.

O futuro da reabilitação: como a RV e RA podem ajudar a recuperar a função física

A Realidade Virtual e a Realidade Aumentada também têm potencial para revolucionar o campo da reabilitação. Essas tecnologias podem ser usadas para criar ambientes virtuais que simulam situações da vida real. Isso pode ajudar os pacientes a recuperar a função física e cognitiva de forma mais eficaz. Isso ocorre porque essas tecnologias podem ser usadas para criar ambientes de treinamento personalizados que podem ser adaptados às necessidades individuais dos pacientes.

Por exemplo, a RV pode ser usada para ajudar pacientes com lesões na medula espinhal a recuperar a função motora. Em um estudo, realizado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, avaliou-se a eficácia da terapia de realidade virtual para melhorar a marcha em pacientes com lesões na medula espinhal. O estudo envolveu 24 pacientes, que foram divididos em dois grupos. O grupo de intervenção recebeu terapia de realidade virtual durante 12 semanas, enquanto o grupo de controle recebeu tratamento convencional.

Ao final do estudo, os pacientes que receberam terapia de realidade virtual mostraram uma melhora significativa na marcha, em comparação com o grupo de controle. Os pacientes do grupo de intervenção foram capazes de andar mais rápido e com mais facilidade, e também relataram uma melhora na qualidade de vida.

O estudo conclui que a terapia de realidade virtual é uma abordagem promissora para a reabilitação de pacientes com lesões na medula espinhal. A tecnologia pode ser usada para criar ambientes virtuais que simulam situações reais, permitindo que os pacientes pratiquem habilidades motoras de forma segura e eficaz. Esse estudo foi publicado na revista Frontiers in Neurology

RA: alternativa segura e estimulante para pacientes com deficiência cognitiva

A Realidade Aumentada também pode ser usada para ajudar pacientes com deficiência cognitiva. Ao introduzir elementos virtuais no espaço real, estimula-se a memória e o raciocínio, ajudando pacientes a melhorarem suas habilidades cognitivas.

Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliou a eficácia da realidade aumentada (RA) para melhorar a memória e o raciocínio em pacientes com deficiência cognitiva. Os resultados mostraram que essa tecnologia pode ser uma abordagem promissora nesse tratamento.

O estudo, publicado na Revista Brasileira de Terapia Ocupacional em 2022, contou com a participação de 30 pacientes com idade média de 65 anos. Eles foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu terapia de RA e o outro recebeu tratamento convencional.

A terapia de RA consistiu em 12 sessões de 30 minutos cada. Durante as sessões, os pacientes usavam óculos de RA para realizar atividades que estimulavam a memória e o raciocínio. Eles precisavam lembrar de informações apresentadas na tela dos óculos e resolver problemas de lógica.

Ao final do estudo, os pacientes que receberam terapia de RA mostraram uma melhora significativa na memória e no raciocínio, em comparação com o grupo de controle. Os pacientes do grupo de intervenção foram capazes de lembrar melhor das informações fornecidas e resolver os problemas de forma mais eficaz.

Os resultados do estudo da UFMG são consistentes com os de outros estudos que investigam o uso da RA para o tratamento de pacientes com deficiência cognitiva. Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que a RA foi eficaz em melhorar a atenção e a concentração em pacientes com demência e em pacientes com TDAH. Já um estudo da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostrou que a RA foi eficaz em melhorar a linguagem de pacientes com a doença de Alzheimer.

A informação sobre o uso da RA para ajudar pacientes com deficiência cognitiva foi extraída do site da Associação Brasileira de Realidade Virtual e Aumentada (Abrava).

O site da Associação Brasileira de Realidade Virtual e Aumentada (Abrava) também cita outros estudos que avaliaram o uso da RA para ajudar pessoas com deficiência cognitiva.
Um trabalho realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriu que a RA pode ser usada para melhorar a memória em pessoas com Alzheimer.
Outro, realizado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu que a RA pode ser usada para melhorar o raciocínio espacial em pessoas autistas.

A RA ainda está em constante desenvolvimento e o potencial de ser uma ferramenta valiosa para ajudar pacientes com deficiência cognitiva.
Aproveitamos para citar abaixo algumas empresas que desenvolveram jogos que estão disponíveis comercialmente:

  • A Gamified Learning desenvolveu um jogo de Realidade Aumentada chamado Memory Lane que ajuda pacientes com doença de Alzheimer a melhorarem sua memória. O jogo permite que os pacientes explorem um ambiente virtual cheio de memórias de suas vidas.
  • A BrainHQ desenvolveu um aplicativo de Realidade Aumentada chamado Real World Memory que ajuda pacientes com deficiência cognitiva a melhorarem sua memória.
  • A Akili Interactive desenvolveu um jogo de realidade aumentada chamado Project Evo que ajuda pessoas que possuem o TEA a melhorarem suas habilidades sociais e cognitivas. O jogo permite uma interação com personagens virtuais em um ambiente social.

A meditação guiada na era digital: como a RV e RA ajudam no relaxamento e na redução do estresse

A RV e a RA também podem ser usadas para complementar outras formas de terapia integrativa, como a meditação. A imersão proporcionada por elas pode ajudar as pessoas a relaxar e a reduzir o estresse.

A RV pode criar ambientes virtuais relaxantes, como praias, florestas ou jardins. O praticante da meditação pode se sentar ou deitar em um ambiente virtual e simplesmente relaxar, o que pode ajudar a reduzir a ansiedade e o estresse.

A RA pode ser usada para complementar a meditação ao criar visualizações que ajudam as pessoas a se concentrar na meditação. Isso pode ajudar no alcance de um estado de relaxamento mais profundo.

A RV e RA como ferramentas de empoderamento: como essas tecnologias podem ajudar pacientes a tomar o controle de sua saúde

A Realidade Virtual e a Realidade Aumentada podem fornecer às pessoas informações e ferramentas que as ajudem a assumir o controle de sua saúde, criando, por exemplo, ambientes virtuais que simulem tratamentos médicos. Isso pode ajuda-las a entenderem melhor os seus tratamentos, desmistificando-os e, assim, estando melhor preparada para recebe-los.

Conclusão

A Realidade Virtual e a Realidade Aumentada têm o potencial de revolucionar as terapias integrativas.
Essas tecnologias podem ser usadas para criar experiências imersivas que podem ser mais eficazes do que as terapias tradicionais.
As tecnologias RV e RA também podem ser usadas para ajudar pacientes a enfrentar seus medos e traumas, recuperar a função física e cognitiva, relaxar e reduzir o estresse e tomar o controle de sua saúde.
Essas tecnologias estão em constante evolução e os resultados preliminares provam que elas podem ter cada vez mais um impacto positivo na saúde e no bem-estar do ser humano.

Referências:

The Promise of Virtual Reality for Spinal Cord Injury Rehabilitation” (A promessa da realidade virtual para a reabilitação de lesões na medula espinhal), publicado na revista “Frontiers in Neurology“.

Realidade aumentada como ferramenta para reabilitação cognitiva: revisão sistemática” (Real augmented reality as a tool for cognitive rehabilitation: systematic review), publicado na revista “Frontiers in Psychology“. O artigo cita um estudo realizado na Universidade de São Paulo, no Brasil, que avaliou a eficácia da RA para melhorar as habilidades cognitivas em pacientes com deficiência cognitiva

Pular para o conteúdo